Quando era menino, no Bairro de S. João, no Lobito, os mais velhos faziam a pergunta sacramental aos candengues: "O que queres ser quando fores grande?" - Polícia, bombeiro, enfermeira, astronauta, respondiam os putos e as meninas que brincavam comigo a fazer currais para os matrindindis, ou a baptizar bonecas no quintal da D. Emília, mãe da Isabel Oliveira (Belinha) e da Dulce Pereira (Dulce). Eu respondia que queria ser helicóptero.
Quando era menino, no Bairro de S. João, no Lobito, os mais velhos faziam a pergunta sacramental aos candengues:
"O que queres ser quando fores grande?"
- Polícia, bombeiro, enfermeira, astronauta, respondiam os putos e as meninas que brincavam comigo a fazer currais para os matrindindis, ou a baptizar bonecas no quintal da D. Emília, mãe da Isabel Oliveira (Belinha) e da Dulce Pereira (Dulce).
Eu respondia que queria ser helicóptero, e os mais velhos, leio-lhes no olhar 50 e picos anos depois, comentavam lá para dentro:
"Coitado do Sr. Nelson, coitada da D. Odete, o menino deve ser avariado das hélices".
Ainda hoje gostava de ser helicóptero, falo a sério.
Por isso não entendo esta polémica. Bem pelo contrário, teria roubado cinco angolares da gaveta da Sagrada Família, que rodava pelas casas dos devotos e pela minha também, para ter umas hélices destas no Colégio Camões, em vez das orelhas de burro cor-de-rosa que me punham, para ostentar na rua, não por ser burro genuíno, certificado, mas por me portar mal, por trocar cisnas do passatempo da Coca-Cola com a Ana Clara quando devíamos, eu e ela, estarmos a papaguear, em voz benjamim-tronitruante, o que o giz da profa escrevera no quadro.
A sério, como eu gostava de ter tido umas hélices destas quando era canininho, quando era o Nisinho, no colégio da D. Estrela.
Dinis Manuel Alves, 11.07.2020