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Doe um provérbio à Nelinha Guedes

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Em Setembro de 2013 houve polémica da grossa. Tudo a ver com a defesa, a pés juntos, mãos agarradas, tornozelos acorrentados, por Manuela Moura Guedes, da existência de provérbio que só ela conhecia: "Dezembro frio, calor no... estilo"! Aconteceu no programa "Quem Quer Ser Milionário".

Entrámos na onda, criando uma fan page no Facebook intitulada "Doe um provérbio à Nelinha Guedes".
A proverbial generosidade dos portugueses em situações difíceis não se fez esperar.
Os resultados podem ser consultados aqui

►A ignorante da Nelinha Guedes recusa a condição e contra-ataca, chamando burros a todos os portugueses. Sustenta que o provérbio existe mesmo, que há até “10 – VERSÕES – 10”, que as poderemos encontrar no “site da Literatura”!!! Temos que a ajudar a encontrar provérbios certificados, para não continuar a fazer tristes figuras. Ajude-nos nesta causa Solidária!
O provérbio 'Dezembro frio, calor no estio' está no centro da polémica. Entre as opções de resposta para completá-lo não estava nenhuma correcta. A concorrente foi eliminada. Domicílio, "aconchego", "abrigo" e "estilo" foram as quatro opções dadas pelo concurso da RTP1 ao desafio "complete o provérbio: dezembro frio, calor no...".
A resposta correta seria "estio", mas não fazia parte das hipóteses apresentadas pelo formato na edição que foi para o ar a 26 de Setembro de 2013. A concorrente Raquel Silva optou pelo termo "aconchego" e acabou por ser eliminada, sem que a produção do concurso apresentado por Manuela Moura Guedes corrigisse a gaffe. De assinalar também a estreia da campeã da deontologia jornalística, Dra. Manuela Guedes, na apresentação de programas de diversão. A senhora disse que precisava de dinheiro para comer, ou algo do género…! Agora só falta o Mário Crespo a apresentar as “Tardes da Júlia”! Lá chegará o dia!

Quem quer ser proverbial

Parece que a Manuela Moura Guedes (MMG) inventou um provérbio. Quando a gente olha para ela dá vontade de dizer «cala a boca, Magda!», o que, sendo uma máxima expressa em poucas palavras e que se tornou popular, pode parecer um provérbio. Mas isso é só um bordão, uma expressão. Provérbio, adágio, ditado, rifão ou anexim, é algo mais - é uma sentença curta mas com moral ou sabedoria. MMG inventou: «Dezembro frio, calor no estilo.» A coisa já existia de outra forma, «Dezembro frio, calor no estio», mas há que convir que essa é a solução plebeia, que busca a rima fácil. MMG quis, e conseguiu, ser erudita. Um rifão não tem de ser só do povo, já o poeta parisiense Alfred de Musset chamou «Comédies et Proverbes» ao conjunto das suas peças teatrais.

«Dezembro frio, calor no estilo» tem também a sua quota de comédia, mas o que me traz aqui é o lado proverbial. Um homem pode ter calor e querer entrar num restaurante com camisola interior - o que não pode ser mais, lá está!, sem estilo. De forma incisiva, como convém a um ditado, a condensação frásica de MMG faz-nos saltar do pressuposto meteorológico (as baixas temperaturas no inverno) para um clímax inesperado (suportar o verão sem fugir ao estilo). A causa, o longínquo inverno; o efeito, um casaquinho de lã fria, um cardigan, próprio para o calor.

Na verdade, juntar épocas do ano e estilo não é novidade - os desfiles de moda não são primavera-verão, outono-inverno?... -, a ideia é simples mas só alguém que conhece mundo se lembraria. MMG correu foi o risco de ser perseguida pela chocarrice, como calha entre nós a todos os inovadores geniais. A fórmula «calor no estilo» levou, na net, a alusões soezes sobre onde ficaria o tal «estilo» acalorado. Mas, como diz outro provérbio, «medem-se as torres pela sombra e os grandes homens [e mulheres] pelo número dos seus invejados».

Outra crítica insinua que há abuso de MMG em tentar inventar numa área, a sabedoria popular, onde tudo já está cimentado pela tradição. A famosa apresentadora chumbou uma concorrente do Quem Quer ser Milionário, por esta não ter aceitado como certa a hipótese «estilo» para completar o provérbio «Dezembro frio, calor no...». Surgida a polémica, MMG, acossada, garantiu haver as duas variantes, as tais acabadas em «estio» e em «estilo», e que havia «pelo menos, dez fontes» onde o provérbio preferia a última versão. Ora, nem O Grande Livro dos Provérbios, de José Pedro Machado, nem a Nova Recolha de Provérbios e Outros Lugares Comuns Portugueses das minhas estantes transcrevem a versão «estilo». MMG deve estar a citar fontes da internet, talvez gralhas repetidas em copy paste.

A internet é perigosa como fonte (por exemplo, a rua carioca Bulhões de Carvalho é lá citada várias vezes com duplo erro, erros que, aliás, também a fazem ser conhecida como a rua Quase-Quase). Era melhor MMG assumir a autoria daquele provérbio. Quem me dera ter sido eu a inventar esse notável «Dezembro frio, calor no estilo». Inventar, sim, porque ninguém declarou que a produção de aforismos estava suspensa. É certo que os há tão antigos como o Livro dos Provérbios, na Bíblia, e que Gil Vicente fez uma peça baseada em «mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube». Mas se no Livro dos Provérbios só há 375 provérbios (e muitos se repetem), tenho um livrinho com 5142 pensamentos que são todos provérbios de um autor, Millôr Fernandes, que só morreu no ano passado.

Millôr não só inventava provérbios, como transformava os clássicos. Do «não há pior cego do que quem não quer ver», ele fez um melhor: «Não há pior cego do que aquele que quer ver.» MMG fez bem em ter melhorado com «estilo» o velhadas «Dezembro frio, calor no estio». Agora estou à espera que melhore o «Chuva em Novembro, Natal em Dezembro». Estou a vê-la a criar: «Ornitorrincos em Novembro, minas de tungsténio no Natal». Faz sentido.

Calor no estilo”. Desculpe, onde??

Complete o provérbio: “Dezembro frio, calor no…”. E a resposta é… estio. Estio? Não! Estilo, é que é.

Não vale a pena entrarmos pela questão superior dos provérbios de que nunca ninguém ouviu falar. Manuela Moura Guedes, sem nada de excitante que fazer depois da extenuante missão “CSI Lisbon – Operation philosopher” de há uns três anos, entrou com verdadeiro estilo na RTP, como apresentadora de um concurso. De tal maneira o estilo é a sua imagem de marca, que vai ao ponto de inventar provérbios “difíceis” só para que deles conste a palavra que elegeu para si, ou, mais prosaicamente, para salvar a face. Nada de novo. A tendência para a criatividade vigarista já vem de longe.

Depois de acusações, alegando falsas opções de resposta para completar o provérbio “Dezembro frio, calor no…”, um dos desafios do concurso Quem Quer Ser Milionário emitido no passado dia 26 pela RTP1, a apresentadora quebrou o silêncio e garantiu, através das redes sociais, que não existiu qualquer erro. “Há dois provérbios sobre o ‘Dezembro com frio…”, um mais conhecido, ligado ao estio, outro ligado ao estilo. São, pelo menos, dez as fontes que sustentam esta afirmação”, começa por explicar Manuela Moura Guedes.

“Foi escolhido no Quem Quer Ser Milionário o provérbio menos conhecido porque a concorrente já estava a responder a uma pergunta de nível 8, mais difícil. Provavelmente seria o outro, o do estio, se estivesse num nível mais baixo. (…) O que me parece ridículo é fazer considerações sobre gaffes e coisas afins partindo do princípio que ‘estio’ não faz parte do vocabulário de qualquer português com uma formação académica normal. Valha-nos esta erudição!”, concluiu a apresentadora.

Uma bomba argumentativa, esta MMG. Até nos faz calor no estilo.


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