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NOS 20 ANOS DA RÁDIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Obrigado Coimbra Martins

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  Cavaco Silva já tinha feito a rodagem ao carro, já tinha anunciado que o Bloco Central já era, ligado à máquina até ao day after da assinatura do Tratado de Adesão à Comunidade Europeia.

Corria 1985, ano e meio depois de, com Jaime Ramos (PSD), termos apresentado na Assembleia da República o primeiro projecto-lei de licenciamento das rádios locais. Dos dirigentes bloquistas de então (os do meu partido – PS -, e os do PSD), não tínhamos novas sobre o sucesso do projecto.

A verdade manda-me dizer que as maiores resistências moravam no Partido Socialista.
Em jeito de despedida, só para fazer tremer um bocado as forças de bloqueio, eu e o Jaime decidimos anunciar projecto-lei para liberalização da televisão.

Já passaram 21 anos, já podemos confessar que nem uma linha tínhamos rabiscado sobre o dito projecto. Não caiu o Carmo, já tão em ruínas; a Trindade continuou a servir cerveja, mas o espavento dos nossos propósitos na comunicação social foi grande. Que nos desculpe a Teresa de Sousa, o Siqueiros, o Capinha – foi por uma boa causa, não levem muito a mal.

Nuno Rocha, director de “O Tempo”, não suspeitava da marotice e enviou-nos telegrama esfusiante, elogiando a coragem e pedindo boleia: “Já agora, senhores deputados, avancem também com a privatização dos jornais do Estado”.

Almeida Santos não sabia e foi à reunião do Grupo Parlamentar do PS. Eu não sabia ao que Almeida Santos ia, não tive tempo para aquecer o lugar, a saudosa Áurea chamou-me ao telefone. Era urgente, um ministro do outro lado da linha.

Era Coimbra Martins, Ministro da Cultura. Acompanhara a euforia e o processo de legalização das rádios livres em França, antes do regresso a Portugal. Já em tempos havia dado mostras de ser amigo da RUC. Aceitou o risco de visitar os estúdios da nossa rádio, deixando-se entrevistar também. Tratava-se de uma rádio pirata, uma rádio que os “radioeléctricos” dos CTT deveriam zelosamente encerrar, por maus tratos à lei do país. Não se importou. O mesmo fizera Mário Soares, ao tempo Primeiro Ministro.

Coimbra Martins telefonara para me “admoestar”: “Então Dinis Alves, vamos embora daqui a dias e você não pede nada para a rádio da sua Académica?!”

Lá pedi, pois claro. Já não me lembro do montante, o João Morgado talvez se não lembre também, mas que deu um jeitão lá isso deu. Seguindo o conselho do ministro, teríamos que pedir para livros, pinturas de paredes, tudo menos para algo que lembrasse pirataria.
Não ouvi uma pequena parte do telefonema de Coimbra Martins, tal o fragor das palmas na outra sala.

Soube depois que os meus camaradas de bancada haviam frenesinado as mãos quando Almeida Santos bateu com uma das dele no peito, no lado do coração, jurando: “Privatização da televisão??? Só por cima do meu cadáver!!!”.

Hoje temos a RUC emitindo legalmente, mais umas centenas de rádios também. Temos a SIC, a TVI, os canais de cabo.
Rádio e televisão abriram-se à iniciativa privada sem ser preciso passar pelo cadáver de Almeida Santos. Fico feliz, pela admiração que por ele tenho.

Em nome dos “maluquinhos” do Centro Experimental de Rádio, em nome dos “lunáticos” da RUC, deixo aqui um OBRIGADO ao Ministro Coimbra Martins. Não pelo subsídio, sim pelo gesto.

Dinis Manuel Alves
Fevereiro 2006