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Como era reformular um jornal quando não havia internet

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  Aparentemente era tudo mais fácil. Em 1992 o Diário de Notícias avançava para uma reformulação gráfica profunda para combater o Público, que tinha chegado às bancas dois anos antes.

Mário Bettencourt Resendes era então director e entre os editores figuravam nomes como Luís Delgado, Armando Rafael, António José Teixeira, Pedro Camacho, Miguel Gaspar, Acácio Barradas e José Leite Pereira. A redacção tinha 133 jornalistas, distribuídos pelo edifício da Avenida da Liberdade, em Lisboa, e pelas delegações do Porto, Coimbra, Faro, Portimão, Leiria e Bruxelas.

Na paginação e design trabalhavam 22 pessoas, no Arquivo 16 e havia uma equipa de 13 revisores. “Nesta fase que agora se inicia, este jornal será leitura obrigatória de todos os quadros que decidem”, escrevia Bettencourt Resendes na edição gratuita que apresentava as mudanças que seriam implementadas dias depois.

Como resposta à estratégia do Público seria lançada a edição Norte e um batalhão de suplementos: Negócios (diário com 12 páginas), Compacto (sobre música e vídeo às terças), Cultura (à quinta), Programas (às sextas sobre TV e entretenimento), Estilos (ao sábado), Milhas (ao domingo sobre carros e motos).

O DN Jovem continuava a sair ao domingo e aos sábados havia ainda os cadernos Emprego e Casas. Dos Estados Unidos tinha vindo um guru, Mario Garcia, para reformular o design do jornal. Estava prometida uma maior aposta nas infografias. “Trata-se de mostrar ao leitor, de forma visivelmente atraente e de imediato perceptível, aquilo que em texto consumiria algumas colunas”, explicava o jornal.

Para validar das mudanças, o DN encomendou à Marktest um estudo junto de duas mil pessoas. “Os reparos foram quase todos pela positiva. Os leitores regulares preferiram o protótipo, mesmo com as limitações de quem está habituado ao seu diário e é confrontado com um produto longe do ‘jornal real’. Aqueles que não nos lêem habitualmente chegaram a colocar o DN ao nível do seu produto eleito”.

Na edição em que era apresentado o novo jornal fala-se até do futuro do consumo de media. Seria a internet? Não, ainda não. Os principais concorrentes eram então a rádio e a televisão (a SIC tinha arrancado nesse mês e a TVI chegaria em Fevereiro). Aliás, a TV era apontada como a responsável para o desaparecimento dos vespertinos.

Em 1992 pensava-se que o futuro da imprensa passaria pela transposição do jornal para o ecrã do televisor. Além disso, o exército dos EUA tinha desenvolvido o dispositivo RED (reddy information systems) que consistia num ecrã minúsculo suspenso por uns auscultadores que projectava a imagem em frente ao utilizador. A informação estava armazenada num pequeno computador preso ao cinto, tal como um walkman.

No futuro, escrevia o DN, o leitor poderia ir a um quiosque comprar, em vez do tradicional jornal de papel, uma espécie de cartão de crédito com texto e imagens para alimentar o RED. A imprensa do futuro não passou por aí.

Artigo de Rui Oliveira Marques, publicado em "Meios & Publicidade"