30 de Abril de 1932. Na primeira página do trimensal “Alma Nova”, que se publicava na Lousã, já perpassavam temores do que aí viria, agora que Hitler, “essa estranha figura de aventureiro”, cavalgava sem freio e muitos votos.
Mais 11 milhões sufragaram os nazis nas urnas, comparando com as eleições de 1925.
Paul von Hindenburg venceu a segunda volta das presidenciais, a 10 de Abril de 1932, com 53,1%, secundado por Adolf Hitler, com 36,7%.
A diferença de 16,4% podia descansar os mais incautos, mas escondia o crescimento avassalador de Hitler, que passados três meses haveria de conquistar o primeiro lugar entre os partidos representados no Reichstag.
Em primeiro, mas sem maioria, aliou-se ao DNVP; a 27 de Fevereiro do ano seguinte, o incêndio do edifício do Reichstag fez o resto.
O articulista do “Alma Nova” pressagiava “uma nuvem nêgra”, por certo sem saber que o negro que temia era cinzento desmaiado.
O negro a sério veio a seguir, longos 12 anos pintados a negro-sangue.
Por cá, leia-se a coluna “ECOS”, nesta mesma página, havia “nacionalistas” que seguiam “o modêlo político de Mussolini e de Hitler”.
Agarravam-se “às muletas do Maurras, do Mussolini e do Hitler”, “um nacionalismo furta-côres, manta de retalhos, importado”.
“É um nacionalismo… internacional”, rematava com ironia o autor da coluna.
Olhando para os dias de hoje, também há, por cá, quem tenha Trump, Steve Bannon, Bolsonaro, Órban como muletas.
Pensem nisso, quando se sentirem impelidos a desvalorizar o fenómeno…
Dinis Manuel Alves, 16.07.2020