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KÁTIA RÊ

A Fotografia, e Rodin, Lautrec, Degas, e os fotógrafos do retoque

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Se pensarmos na fotografia retocada e fizermos uma incursão em algumas regiões menos favorecidas do Brasil, ainda é possível vermos fotógrafos praticando o "retoque", seu instrumental além da cor para colorir cabelos e mudar o penteado ou amenizar as rugas da face, se compõe de moldes vazados para embelezar os trajes ou para conseguir detalhes extras.

LEMBRAR tempos remotos remonta com freqüência reminiscências fugidias de infância, ou histórias que há muito foram contadas, ainda que o seu real sentido tenha escapado de nós e trilhado caminhos desconhecidos.

Quem não tem boa parte de sua história contada em alguns registros fotográficos?

A fotografia exerceu e exerce um bárbaro fascínio nas pessoas...

Se pensarmos na fotografia retocada e fizermos uma incursão em algumas regiões menos favorecidas do Brasil, ainda é possível vermos fotógrafos praticando o "retoque", seu instrumental além da cor para colorir cabelos e mudar o penteado ou amenizar as rugas da face, se compõe de moldes vazados para embelezar os trajes ou para conseguir detalhes extras (pura interferência). Em nossos dias o contraponto seria o tratamento digital da fotografia com o auxílio dos mais diversos softwares, entre eles o Photoshop e o Corel Photo Paint?

O registro de imagens retiradas do social que outrora foi um legado da pintura, a partir de 1839 com a invenção da fotografia, passou às mãos fotógrafo. A fotografia passou a dar conta das vistas de cidades, retratos, ilustrações, reportagens etc.

Nos 50 anos iniciais da fotografia, os amadores passaram da utilização da volumosa câmera preta ao equipamento portátil e de fácil manuseio, colocaram de lado a placa de vidro pesada em detrimento do suporte flexível, inquebrantável, e ainda, livraram-se do daguerreótipo para a tiragem em emulsão à base de prata. Com isto, houve a redução dos tempos de exposição e foi possível aos fotógrafos alcançarem o máximo de precisão.

Ao se colocar no mundo, a Fotografia desencadeou uma crise, atingindo em cheio aos pintores de ofício. A partir de então, foram questionados os valores da Pintura, que passou a ocupar o nível de uma atividade feita para a elite, assim como foi colocada em "xeque" a existência da produção de alta qualidade na arte, isto é, deixou-se de considerá-la como um bem de consumo normal, e falou-se até em uma tendência ao seu desaparecimento.

Quantos estereótipos!

"A hipótese de que a fotografia reproduz a realidade como ela é e a pintura a reproduz como se a vê é insustentável: a objetiva fotográfica reproduz, pelo menos na primeira fase de seu desenvolvimento técnico, o funcionamento do olho humano. Também é insustentável que a objetiva seja um olho imparcial, e o olho humano um olho influenciado pelos sentimentos ou gostos da pessoa; o fotógrafo também manifesta suas inclinações estéticas e psicológicas na escolha dos temas, na disposição e iluminação dos objetos, nos enquadramentos, no enfoque. Desde meados do séc. XIX, existem personalidades fotográficas (por exemplo, Nadar) da mesma forma que existem personalidades artísticas. Não há sentido em perguntar se "fazem arte" ou não; não há qualquer dificuldade em admitir que os procedimentos fotográficos pertencem à ordem estética(...) Afirma-se freqüentemente que a fotografia deu aos pintores a experiência de uma imagem destituída de traços lineares, formada apenas por manchas claras e escuras; a fotografia, portanto, estaria na origem da pintura 'de manchas', isto é, de toda a pintura de orientação realista do século XIX." (Arte Moderna - Argan, Giulio Carlo)

Conta-nos a História da Arte, que um ano depois da descoberta da fotografia nasceu Auguste Rodin que, com sua genialidade, criou esculturas e paralelamente produziu outra obra quando cedeu aos encantos da fotografia e registrou passos de sua obra escultórica; cada ângulo que buscou registrar através da objetiva se tornou um outro trabalho.

A carreira de Auguste Rodin aconteceu em paralelo com os anos considerados mais fecundos da mais nova técnica de reprodução a que o mundo havia sido apresentado.

O artista fez nada menos que 7.000(sete mil) registros fotográficos e presenteou o mundo com essa outra magnífica obra, cujo principal legado foi um conjunto de explicações relativas à questão do olhar além da construção de um discurso coerente e claro sobre a própria obra, com o auxílio da fotografia.

Toulose Lautrec e Degas foram artistas que igualmente se utilizaram da fotografia para colocar na tela a fragmentação do movimento, Toulose quando pintou seus cavalos em corrida ou Degas quando captou todos os movimentos das bailarinas, mostraram ao mundo o que o olho humano até então não conseguira alcançar, pela velocidade com que tais movimentos se processavam.

Uma reflexão: Através da fotografia o olho atento do fotógrafo perpetua o instante e permite a volta ao passado através de imagens que jazem, na eterna embriaguez do tempo.

Há que se considerar portanto, o espaço do tempo entre o espectador e a obra para uma visada sobre ela e o tempo no qual se insere, o conjunto de valores que estiveram norteando político, social, moral, economicamente o fazer do artista.

Kátia Rê
Arte-educadora com especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil