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OBRA ENCOMENDADA PARA BRUXELAS GOZA COM ESTEREÓTIPOS NACIONAIS

Impostura embaraça checos e indigna a Bulgária

  • In GEO
  • 2021-02-23
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Escultura adorna entrada do edifício do Conselho de Ministros da UE, e causa perplexidade, indignação... e gargalhadas.

Este tipo de reacção era o que a presidência checa da União Europeia (UE) pretendia obter com a obra de arte que escolheu para imprimir a marca do “seu” semestre num dos principais edifícios europeus, cumprindo uma velha tradição.

A concepção da obra foi entregue ao controverso artista plástico checo David Cerny, que ficou encarregue de convidar 27 autores dos Vinte e Sete a expressar a sua visão dos estereótipos nacionais. O resultado, baptizado Entropa, está pendurado na entrada do edifício do conselho de ministros da UE, acompanhado de um catálogo que explica em detalhe o currículo e a motivação de cada um.

Não há “Carla de Miranda”

Rapidamente, no entanto, o Governo checo viu-se obrigado a reconhecer que foi vítima de uma impostura, assumindo um novo embaraço de uma presidência que teve um início pouco auspicioso: os 27 “artistas nacionais” foram todos inventados pelo próprio Cerny, que, ajudado por dois amigos, concebeu igualmente os estereótipos. O que significa que “Carla de Miranda”, suposta autora dos bifes portugueses e que, segundo explica o catálogo, não gosta de “gordura” nem de “colonialismo”, é pura ficção.

Foi Cerny, igualmente, que decidiu transformar a Suécia numa caixa de móveis Ikea, construir a Dinamarca em Lego, ou inundar a Holanda deixando de fora apenas minaretes de mesquitas, pôr a Grécia em fogo, cobrir a Espanha de betão ou representar a Polónia com um grupo de padres na postura dos soldados americanos de Iwo-Jima a plantar a bandeira da homossexualidade. E que deixou um buraco no lugar do eurocéptico Reino Unido.

Alexandr Vondra, vice-primeiro-ministro checo dos Assuntos Europeus, confessou que ficou em “estado de choque” quando percebeu até que ponto a presidência foi enganada. Afirmou-se “muito desagradavelmente surpreendido” e acusou Cerny de “violação das condições do contrato”. O visado defende-se com um comunicado em que afirma que “a hipérbole grotesca e a mistificação fazem parte dos atributos da cultura checa e a criação de falsas identidades representa uma das estratégias da arte contemporânea”.

No meio do embaraço, os checos revelaram-se ontem incapazes de precisar o que contam fazer, quando a inauguração oficial do puzzle está prevista para esta manhã. A dúvida é alimentada pela indignação da Bulgária, que, num protesto oficial, exigiu a retirada imediata da “sua” peça antes da inauguração, afirmando não poder aceitar ver-se representada por “essa coisa horrível”.

Isabel Arriaga e Cunha
Público, 15 de Janeiro de 2009

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