Na televisão, a batalha pela fidelização é feita em directo, a vitória ou a derrota acontecerão já dali a alguns minutos.
Por esse motivo, as notícias que compõem um telejornal surgem-nos com duas facetas indissociáveis: a primeira deve responder positivamente a critérios estritamente jornalísticos. A segunda transforma-as em notícias-DOT, pequenas peças de um alinhamento que se quer alinhamento-DOT também, porque importa não alienar telespectadores para o campeonato das audiências que se joga naquele segundo preciso, e que se continuará a jogar nos minutos e nas horas seguintes.
Daí a razão de ser dos telejornais com picos de interesse temporalmente espaçados, como se se tratasse de um jornal impresso com várias primeiras páginas. Aí a razão para diferir o calendário de nus artísticos das desportistas australianas para depois do intervalo, de molde a conseguir que os telespectadores aguentem firmes nove minutos de publicidade. Daí as mentirinhas que os apresentadores repetem todos os dias, quando se despedem para um intervalo publicitário, dizendo algo do género: para ver na segunda parte, não saia do seu lugar, é já, já a seguir. Um já que os telespectadores mais precavidos sabem significar daqui a pouco, ou daqui a bocado.
É a estratégia DOT que leva os responsáveis de um telejornal a guardarem a informação pertinente e actual para o programa que vem logo a seguir, engodo destinado a manter os telespectadores sintonizados no canal, como fazia a SIC (Jornal da Noite) com o Granada-Dakar. É a mesma estratégia que obriga ao retalho de algumas reportagens, transmitidas em episódios ao longo de um jornal televisivo. A reportagem transforma-se assim em novela, com quatro, cinco, os episódios que calhar.
É a estratégia DOT que comanda as falsas entradas, as promos das notícias, também os títulos impostores de algumas delas (por exemplo, uma promo da TVI que, para suscitar o interesse dos telespectadores, escondia o facto de membros da seita Cristãos Preocupados – dados como desaparecidos -, já terem sido encontrados em Israel, informação libertada discretamente no final da notícia promovida).
PARA LER NA ÍNTEGRA AQUI (pdf, 7 páginas)
ACOMPANHE, MINUTO A MINUTO, UM CASO ESPECÍFICO (apresentação powerpoint)
Excerto reportando aos nossos trabalhos de doutoramento. Texto publicado em:
“DA MÁQUINA ENFATIZADA À MÁQUINA CONSTRANGIDA – Mal Dita Televisão”. ALVES, Dinis Manuel. Mar da Palavra, Coimbra, 2011.