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Olha só que mar tão grande...

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Nascido no Lobito, Sala de Visitas de Angola à beira-mar plantada, sabíamos de crianças, aqui por Portugal, que nunca tinham visto o mar em directo e ao vivo.

Não sei como, mas escolhemos Agualva, concelho de Vale de Cambra, distrito de Aveiro.
Nenhuma das crianças que ali vivia tinha visto o mar.
Era uma aldeia de mães, todos os homens a trabalhar na estranja.
Os professores iam à segunda, regressavam à sexta, na invernia no jeep da Junta de Freguesia, carreiro difícil, muito tempo para lá chegar.
Uma ou outra paragem para retirar troncos do caminho.

Encontrámos as crianças, todas, de branco-alvo vestidas, como se fossem para a comunhão solene.
Partimos em direcção à Praia da Barra, em Ílhavo.
Poucos minutos volvidos, comecei a temer marcha-atrás. Uma pequenita começou a vomitar.
Tudo se resolveu.
Entretanto, o Presidente da Junta contou-me as dificuldades que tinha enfrentado para convencer as mães a autorizarem o passeio dos filhos.
Afinal, não era só não terem nunca visto o mar, era também, em alguns casos, nunca terem saído da aldeia.

Correu tudo bem, uma alegria indescritível das crianças, querendo à viva força entrar no mar, mesmo vestidas para a comunhão solene.

E lembro-me da frase-espanto de uma das pequenitas: "Olha só que mar tão grande...!!!"

O dia foi longo, repleto de estreias. Viagem numa automotora, ida a Coimbra, ao Portugal dos Pequenitos e o que mais poderão ler AQUI

Dinis Manuel Alves, Tal & Qual, 14.06.1991