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ANTÓNIO COSTA PINTO | DINIS MANUEL ALVES

Ao Redor de Coimbra

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São lugares onde o sol tem mais larguezas para esculpir as suas sombras. Há gente que espera, sem sobressalto, a chegada da cidade. A periferia sabe que é efémera, vai perder, não tarda, carta de alforria de aldeia, virar subúrbio, nome feio.

Até lá, ouve-se o relato no rádio de pilhas, tem outro paladar. Planta-se sofá na árvore, é o banco dos pensamentos. Há animais que não vão ao veterinário, burros que sulcam carreiros em Andorinha, cegonhas que vêem passar a luz para alumiar a grande cidade.

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O dormitório dos invasores sem nome que chegaram das aldeias, convive com as aldeias com gente que sabe o nome de toda a gente, mesmo dos que não são dali mas lá casaram.

A cidade ameaça derramar-se em tropel de betão, chegam mais buzinas, o claxon do telemóvel ainda se ouve baixinho, dá tempo para olhar o carrossel de nuvens que o cimento ainda não arranhou.

As máquinas de lavar roupa têm margens, e arbustos, e água sem contador. Há tempo para ver passar a gente sem tempo que adorna sem cessar, o kitsch vai sobrevivendo envergonhado, os leões olham com espanto para o armazém de gente prantado à frente, nem uma gaiola na varanda. E há essa coisa plastificada dos estores que já despromoveu as cortinas rendadas a naperons.

Ao redor da cidade grande há tempo que passa sem a canseira de o retalhar em minutos, o Certina acerta-se no céu, agradece-se com tocante educação a honra de uma fotografia e pergunta-se a que horas vai dar na televisão.

Exposição "Ao Redor de Coimbra", fotos da autoria de António Costa Pinto e Dinis Manuel Alves.
A exposição, que esteve patente, em sala, na Casa Municipal da Cultura, integrou o Projecto "Dias de Coimbra"

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