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OS FECHOS NOS TELEJORNAIS

Adeus que me vou embora

  • In TV
  • 2021-02-24
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Em contraste absoluto com a abertura, que merece cuidados de filigrana, o fecho dos telejornais alberga géneros mais variados de peças. O lenço branco tanto pode ser agitado em tons dramáticos, como em registo mais burlesco. Esta última opção é a mais sugerida, também a mais seguida.

Nos receituários de alinhamento das notícias ou dos assuntos nos telejornais, é tradicional recomendar-se um fecho divertido. “O fim de um serviço informativo segue geralmente um esquema bem determinado” — prescrevem Garvey e Rivers (1994: 147) , detalhando em seguida a roupagem do adeus: “Algumas emissões terminam invariavelmente com uma sequência divertida — seja ela humorística, ou baseada num assunto de interesse humano”.

Tais estórias de fecho, por serem quase sempre de curta duração, ajudam a cumprir mais fielmente os horários dos programas, ajustando-se às necessidades da contra-programação, se for caso disso. É por esse motivo que Garvey e Rivers desaconselham a colocação de uma notícia longa no fim da emissão, pois pode correr-se o risco do apresentador, ao aperceber-se de que o tempo lhe vai faltar, se ver obrigado a interrompê-la a meio!

O fecho e a zona adjacente são, via de regra, condomínios privados dos fait divers. As zoo-news têm lugar cativo em muitos fechos. É aqui que evoluciona o elefante goleador de Miami, o elefante-bebé de Sumatra, o elefante-bebé do Cambodja, a orca de Orlando, os corvos que invadiram a capital malaia, os macacos da aldeia indiana, os caracóis de Pombal, o homem que fica cheio de abelhas que não o picam, o gato tailandês que é o melhor amigo do rato, a senhora da Feira que tem 28 cães em casa, o crocodilo tailandês que fez anos e teve festa a preceito, a manifestação de cães contra a decisão do tribunal de retirar os bichos à senhora da Feira, os tigres brancos da Coreia do Sul, os burros turísticos de Porto de Mós, os orangotangos de Singapura, a vaca mãe adoptiva de um carneiro, os gatos punidos com castração por se terem passeado, inadvertidamente, pelo parlamento indiano, os animais albinos da Indonésia…

As guiness-news também compram, regularmente, alguns minutos da hora da despedida, do bolo mexicano ao salto de 500 páraquedistas em queda livre, nos céus da Tailândia, passando pelo alfaiate que confeccionou as maiores calças do mundo, pelo grupo de gulosos que conseguiu entrar no célebre livro a comer gelados…

Há outros records que se batem, bastando para tal estar vivo, como a queniana mais velha do mundo. Há as notícias-mega, como a concentração de milhares de gémeos na Formosa. Há as fight-news, violência a rodos em jogos de futebol (Malásia-Nepal, Corintians-Palmeiras). Há um indiano que puxa um navio de 275 toneladas com os dentes, a invenção de um cinto anti-violação, a pastelaria de Taipé que confecciona bolos aditivados com Viagra, um calendário de nus artísticos das jogadoras da selecção australiana de futebol, um festival de arte com escultores que esculpem enormes pénis em madeira …

As artes da paginação dos telejornais metem as outras artes no carro-vassoura das notícias. Novos discos, dos Anjos a Diana Krall, de Fausto aos padres filipinos que criaram uma banda de rock. Muitos concertos, exposições de fotografia, pintura, escultura; por vezes o desporto, muitas vezes a necrologia dos que não vão para o panteão (Artur Bual), porque esses (Hussein da Jordânia) têm, geralmente, honras de abertura. Também as barbie-news, notícias na passerelle, sob o pretexto de informar os telespectadores quanto às últimas da moda. A existir, a informação será apenas visual, pois raramente tais peças são acompanhadas de texto, servindo antes para despedidas brincalhonas dos apresentadores.

O grosso das notícias de fecho parece encomendado à Good News from Everywhere Inc, uma agência noticiosa fundada em finais de 1970 por Hubbard Keavy, que foi chefe de escritório da Associated Press em Los Angeles. Keavy, assinala Piedrahita (1993: 162), compra estas boas notícias vindas de toda a parte, estas notícias alegres a 5 dólares a unidade, para mais tarde as revender à imprensa, rádio e TV.


PARA LER NA ÍNTEGRA AQUI (pdf, 13 páginas)

VEJA OS QUADROS (apresentação powerpoint)

Excerto reportando aos nossos trabalhos de doutoramento. Texto publicado em:
“DA MÁQUINA ENFATIZADA À MÁQUINA CONSTRANGIDA – Mal Dita Televisão”. ALVES, Dinis Manuel. Mar da Palavra, Coimbra, 2011.