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REBORDOSA E LOURÊDO | MAIS UM RIO, MENOS UMA PONTE

E que jeito dava prá fragoneta

  • In TV
  • 2021-04-01
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1994. Em Lisboa lutava-se contra o pagamento da portagem na ponte.  

1994, 24 de Junho. O bloqueio da Ponte 25 de Abril, em protesto contra o aumento das portagens, terminou em confrontos com a polícia e com uma carga policial sobre os manifestantes.
O país parou para ver a capital parada, para a história ficou a legenda "O princípio do fim do cavaquismo".

1994, Setembro. Em Lisboa lutava-se contra o pagamento da portagem na ponte - já os habitantes de duas aldeias nas cercanias de Coimbra até se sujeitavam ao pagamento de uma pequena importância caso as câmaras de Poiares e Penacova resolvessem dar anadamento à construção de uma ponte sobre o Mondego.

Alinhemos o texto ao presente.
É que, em linha recta, as aldeias distam apenas 300 metros uma da outra. Mas com o Mondego a separá-las, são oito longos quilómetros para pisar solo firme, na outra margem.

Quando o rio enche, os agricultores com terras na outra margem têm que palmilhar oito longos quilómetros, para cumprirem a jorna diária.
E o mesmo sacrifício quando precisam de apanhar a camioneta para Coimbra.

Antigamente, as duas aldeias chegaram a dispor de um barco e piloto, pago pela Câmara de Penacova, que assegurava o transporte dos habitantes das duas aldeias. Mas a benesse durou pouco, e toda agente suspira hoje pela ponte que nunca mais se constrói.

O anseio chegara-nos por notícia curtinha de jornal local.
A reportagem chegou ao telejornal da TVI (ao tempo ainda "4"), pivot lido por Clara de Sousa. Era Setembro, dia 1.

EIS A NOTÍCIA

1998, Março

Já não estava na TVI. O João Bizarro telefonou-me, perguntando se me lembrava dos nomes das terras daquela peça que tinha feito há uns anos atrás, da malta de duas aldeias que tinham um rio mas não tinham uma ponte.
A Vasco da Gama ia ser inaugurada dali a dias e queriam enfeitar o dia com outras pontes país fora, também a falta delas.
Lá lhe ofereci as palavras mágicas, Rebordosa e Lourêdo, obriguei-o a prometer que depois me enviava a peça para os meus arquivos, ele não cumpriu, claro.
A notícia saiu a 29 de Março, desta feita com o malogrado Miguel Ganhão Pereira nos estúdios*.

EIS A NOTÍCIA

 2021, Março
Confesso não ter visto a peça na altura. Lembrei-me agora de a pedir aos arquivos da TVI. Muito mais eficazes que o João, chegou-me na volta do e-mail.

Um caso engraçado de "follow up", de seguimento de assuntos que foram notícia e que, via de regra - uma regra com eficácia de 99,6%, 99,97% para as berças, o mesmo é dizer para o imenso Portugal que fica acima de Aveiras e abaixo de Corroios -, e que, via da tal regra, caem no esquecimento.

[15 dias depois da difusão da nossa peça, o semanário "O Independente" haveria de dar página inteira a caso similar, aldeia de Chelas, Mirandela. Lemos que a malta já estava à espera da pontinha há 700 anos - Artigo "Nós pagamos"]

BÓNUS - Rabiscos sobre a peça de 1994

Obrigado à Lisete Alves (TVI Porto) e à Teresa Gião, da Mediateca da TVI.
Quanto ao João, vou mandar-lhe o link desta notícia, para que a leia, se encha de remorsos pela quebra do dever sagrado de cumprir o que se prometeu.
Como continua com o faro jornalístico muito apurado, presumo que volte a Rebordosa, 22 anos depois, para saber junto do Sr. Barros, da Dona Celeste, da Dona Maria Adília, se já há ponte ou, não havendo, se a promessa da sua construção foi agora reavivada. Como estamos em ano de autárquicas, pode ser que sim...
Entretanto, aproveita para mais uma peça!

*in memoriam. O Miguel foi de uma simpatia extrema aquando da minha estada na redacção da TVI, idos de 1999, uma semana de observação directa incluída nos trabalhos de doutoramento.

Já que aqui está, aproveite para ver também:

Bloqueio da ponte. O princípio do fim do cavaquismo foi há 25 anos (DN, 22.06.2019)

Bloqueio na Ponte 25 de Abril, 24 de Junho de 1994 (youtube, 1h 03' 20'')

Mega-Feijoada na Ponte Vasco da Gama (RTP1, 22.03.1998)

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