Como surgem as notícias que vemos na televisão? Quais as condicionantes que determinam a agenda da TV? Para responder a estas e outras perguntas, Dinis Manuel Alves analisou os telejornais da RTP1, RTP2, SIC e TVI, em 1999. 215 telejornais, 3659 notícias. Ainda 2344 noticiários emitidos pela Antena 1, Rádio Renascença e TSF. E também várias centenas de jornais diários, semanários e revistas. Investigação que contemplou também a presença, durante cinco semanas, nas redacções das televisões portuguesas, culminando na tese de doutoramento "Mimetismos e determinação da agenda noticiosas televisiva - A AGENDA-MONTRA de OUTRAS AGENDAS", defendida na Universidade de Coimbra.
Centrada nos mecanismos de formação da agenda noticiosa televisiva, mais especificamente na detecção de práticas miméticas (endógenas e exógenas ao meio televisão), a investigação permitiu sustentar o carácter determinado da agenda televisiva em relação a outros meios (rádio e imprensa escrita) e, em consequência: a) uma assinalável ‘capitis diminutio’ da autonomia dos jornalistas de televisão no processo de selecção do noticiável; b) uma considerável redução da diversidade noticiosa gerada pelos ‘media’. O circuito que vai do acontecimento à inclusão nos alinhamentos noticiosos televisivos surge aqui complexificado, com a introdução de novos elos na cadeia. A notícia, não sendo já aceite como um mero ‘espelho da realidade’, passa a constituir-se como uma construção resultante de um complexo jogo de espelhos, o agendamento televisivo reflectindo o fulgor de agendamentos prévios por outros meios.
"Importa, em nosso entender, rever a velha máxima ‘a rádio dá, a televisão mostra, o jornal explica’. À luz dos dados apurados, arriscamos substituto para o tradicional ditado: ‘a rádio e os jornais dão, os jornais explicam, a televisão mostra ou anima (muito) do que a rádio e os jornais deram, mas explicando muito pouco’. O ‘privilégio da revelação’ - motor maior daqueles que um dia resolveram abraçar a profissão de jornalistas -, foi substituído pelo ‘privilégio de animação’. A agenda noticiosa televisiva transformou-se numa ‘agenda-montra’ de outras agendas, escaparate de atracções vendendo os milagres de fazer mexer as fotos que jazem inanimadas na imprensa escrita, e de revelar as fúrias, trejeitos e feições dos ‘sem-rosto’ que ocupam as notícias da rádio" - defende o autor no quarto e último livro resultante dos seus trabalhos de doutoramento.
320 páginas
Livro disponível na WOOK (formato papel)
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